Comemora-se hoje, dia 18 de Maio, o Dia Internacional dos Museus, dedicado ao tema “Museus para a Igualdade: Diversidade e Inclusão”.
Macau associa-se às comemorações promovendo iniciativas digitais onde se destacam as acções promovidas pelo MAM – Museu de Arte de Macau – no sentido de divulgar diversas exposições que atualmente decorrem nas suas instalações, designadamente “Uma Pérola do Mar – exposição dedicada à evolução urbana de Macau” e que conta a história por trás de cada peça exibida na mostra permitindo ao público ficar a conhecer a exposição “sem sair de casa”, como se diz no portal do Governo.
Paralelamente, num workshop online, ensinam-se os ouvintes a criar um candeeiro de mesa. Ambas as iniciativas decorrem em língua cantonense.
As atividades enunciadas parecem-nos de ambição reduzida face ao potencial que a cidade de Macau tem no âmbito museológico e principalmente quanto ao facto de, sem grande esforço, ser possível apreciar e divulgar a interculturalidade de uma cidade que, desde a sua génese, tem sido inclusiva retendo no seu âmago a diversidade que a caracteriza. É ainda mais redutor o facto destas situações estarem disponíveis apenas em cantonense.
E que tal alterar o paradigma?
Que tal divulgar os museus existentes na cidade através de visitas e périplos realizadas pelo seu interior, com a narrativa feita por conhecedores da história da cidade, académicos, historiadores, arquitectos, representantes das associações do património e outros interessados que tenham ideias e conhecimentos para partilhar?
E depois de toda essa matéria estar compilada, que tal traduzi-la para diferentes línguas e disponibilizar essa informação online?
Teríamos então, aí sim, a verdadeira comemoração museológica que a cidade merece, convidando os cidadãos e visitantes a conhecerem a urbe e a sua história, participando nela.
E há tanto mais para fazer: porque não organizar seminários, conferências, palestras sobre o património, quer o tangível, quer o intangível?
Hoje em dia, em tempo de confinamento, muitas das reuniões fazem-se e concretizam-se via web. São frequentes os webinar e para falar de património também se pode, e deve, recorrer às novas tecnologias. Basta organizar e dinamizar.
Quanto a comemorações é de referir que no passado dia 18 de Abril se celebrou o Dia Internacional dos Monumentos e Sítios, em Macau a data passou despercebida e não houve actos públicos a assinalar o facto.
Este dia foi instituído pelo ICOMOS – International Council On Monuments and Sites, em 18 de Abril de 1982, aprovado pela UNESCO e, a partir daí, tem constituído um marco comemorativo do património, celebrando a solidariedade em torno de bens e heranças colectivas.
Em Macau temos todos os motivos para honrar esse dia, pois a cidade engloba uma rica história de partilhas desde a sua constituição, os seus monumentos e sítios são consagrados e estão inscritos na lista classificada do património da humanidade. Qualquer iniciativa e planeamento futuro terão de ter esse passado em consideração, e essa reflexão deve ser feita.
No contexto da celebração do dia 18 de Abril cabe destacar uma iniciativa do grupo científico “Shared Built Heritage” do ICOMOS, tendo sido convidada a participar num webinar sob o tema “Crossover Dialogue: Shared Future, Shared Heritage”.
Três questões balizaram as intervenções dos participantes: o que é Património partilhado e qual a diferença entre o património a que estávamos habituados e aquilo que praticamos hoje em dia? Poderão as técnicas digitais substituir a percepção real do património? Qual será o “valor universal” do património no futuro? Como se poderá vir a preservar o património partilhado e qual a responsabilidade de cada um de nós?
Questões pertinentes que os participantes, de diversas nacionalidades, residentes em vários continentes, contribuíram para esclarecer, numa produtiva reflexão conjunta que irei apresentar numa outra crónica.
Questões relevantes para Macau e para o futuro do seu património, um património que coletivamente partilhamos e que, coletivamente devemos debater, de forma inclusiva, em todas as línguas, no dia dos museus, no dia internacional dos monumentos e sítios. Todos os dias.
Maria José de Freitas
Arquitecta | ICOMOS-SBHSG
DPIP3-UC.PT
mjf@aetecnet.com
Source: EDITORIAIS E OPINIÃO